É culpa da mídia!


É realmente fácil relacionar a mídia ao consumo exagerado e desnecessário de produtos. A explicação para esse “hábito” é simples: a mídia é o principal agente divulgador de bens e serviços. É através dela que conhecemos, de forma geral, os próximos objetos que iremos adquirir ou desejar ter. Isso acontece porque ela é um espaço de troca, de manifestação de opinião e tendências. E não é só isso. Para o escritor e comunicador Niceto Blázquez no livro Ética e Meios de Comunicação (Paulinas: 2001, página 51), “os meios de comunicação social são um instrumento de enorme eficácia para impor ideologias e interesses de todo tipo (...)”. Porém, existe uma engrenagem por trás dessa história, algo simples de ser entendido.

A mídia é composta pelos meios de comunicação que, por sua vez, são utilizados para atingir o público, a sociedade. Mas, já que possui uma engrenagem, a mass media precisa de combustível para funcionar. O que alimenta essa máquina é um sistema econômico que ganhou força a partir da Revolução Industrial, já no final do século 18: o capitalismo. Esse sistema, dominante na parte Ocidental do mundo, tem como objetivo acumular recursos financeiros para que a produção econômica aconteça² de forma vasta. Quanto maior for a produção, mais o consumo será estimulado e maior será o lucro do fabricante.

Então, uma vez que a fabricação ocorre de maneira farta no capitalismo, é preciso existir algum tipo de incentivo para que o que foi produzido seja escoado. É nesse ponto que detectamos, entre outras razões, a importância da mídia: motivar o consumo de tudo o que o mundo capitalista produz. O exemplo da engrenagem, já citado acima, cabe muito bem aqui. Se uma das peças da máquina emperra, ou seja, se o consumo não ocorre, todo o restante do maquinário sofrerá consequências em seu desempenho podendo, inclusive, levar o sistema à paralisação, à falência.

Por isso é, constantemente, atribuída à mídia a culpa de ser a principal responsável pelo hábito consumistas das pessoas. A psicóloga Tereza Helena Schöen Ferreira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma em uma entrevista à rádio Jovem Pan que, atualmente, o consumo não se baseia mais apenas nas necessidades físicas do homem, mas, sim, na propaganda e nas necessidades sociais.

Mas quem gera essas “necessidades sociais”? A resposta está na própria fala da psicóloga: a propaganda; e como isso acontece também não é nenhuma novidade. O jovem consumidor, por exemplo, despensa várias horas do seu dia no contato direto com informações despejadas pela mídia. Só em relação à web, por exemplo, uma pesquisa divulgada no ano passado pelo o Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) aponta que os brasileiros gastam, em média, 26 horas e 15 minutos por mês na internet. Esses dados indicam que o Brasil está no topo dos 10 países que mais gastam tempo com navegação online. Países como o Reino Unido, a França, Alemanha e o Japão ficam atrás dos números brasileiros.

E isso porque somente a internet foi citada... Se dados referentes à televisão forem destacados, a certeza de que não há como não ser “atacado” pela mídia só tende a crescer. A não ser que você more na zona rural e em sua casa não haja telefone, rádio, televisão ou internet - o que acho pouco, bem pouco provável. Até porque, só para se ter uma ideia dos números relacionados à televisão, cerca de 95% das casas do Brasil possuem ao menos um aparelho de TV. A informação, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), indica que, dificilmente, conseguimos escapar dos bombardeios ocasionados pela mídia diariamente.

Todos os dias, de alguma forma, cidadãos são atingidos por informações que brotam dos meios de comunicação. Uma pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia mostrou que foi produzida em todo o planeta, no ano de 2002, conhecimento suficiente para ocupar 500 mil bibliotecas iguais a do Congresso dos Estados Unidos. É como se, naquele ano, cada pessoa tivesse produzido uma pilha de livros de nove metros de altura.

Essa sensação de sufocamento causado pela quantidade de informações empurradas ao consumidor só parece ser reforçada em véspera de datas comemorativas, por exemplo. Nessas épocas, não há controle remoto que vença a luta contra as propagandas. São móveis, celulares, carros, eletrodomésticos, eletrônicos e produtos de vestuário a preço “de banana”, “excelentes” para presentear quem você ama. Aí o consumidor entra no dilema: presentear e gastar, ou não presentear e passar a imagem de que não deu importância à data comemorada?

Diante de tal "sinuca de bico", voltamos à questão levantada no início deste texto: se a produção fabricada no mundo globalizado precisa ser escoada, quem gerará nos consumidores a necessidade de comprar? É aqui que mora a Propaganda, filha legítima da Sra. Mídia! “Se a indústria produz coisas em excesso, ou de segunda necessidade, ou com preços acima da realidade, é a publicidade que se encarrega de convencer os indivíduos a comprar aquilo que, em verdade, eles não precisam”¹, afirma o especialista em Docência Universitária Valdecir Lima, professor graduado em Teologia, Língua Espanhola e Letras.

Mas será que essa atitude apelativa da mídia, através da propaganda, gera consequências no modo com que as pessoas consomem? Com certeza! Para o jornalista Michelson Borges no livro Nos Bastidores da Mídia, na página 30, quando somos alvo frequente da mídia, acabamos perdendo a sensibilidade necessária para discernirmos o que vemos ao redor. “A consequência é a adoção de pensamentos e comportamentos muitas vezes até contraditórios em relação com uma vida moralmente correta”².

Ou seja, a base do erro é provocar, no consumidor, uma resposta mais emotiva do que racional porque é através desse comportamento entorpecente que a mídia tenta “amarrar” o consumidor, ou pela emoção, ou através de uma história engraçadinha deixando a desejar no quesito “utilidade” ou “razão fisiológica” que torna o produto divulgado realmente necessário.

A consequência disso tudo é a disseminação de jovens (faixa etária que mais se interessa pelo consumo³) desvirtuados em seus hábitos, que acabam prejudicando a saúde deles e a do próprio bolso.

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Referências:

1 - Trecho retirado do livro O Universitário Cristão na Sociedade de Consumo, página 121. Organização: Allan Novaes e Martin Kuhn. Editora: Unaspress – Imprensa Universitária Adventista.

2 - Informações retiradas do livro Nos Bastidores da Mídia, de Michelson Borges, página 153. Editora: Casa Publicadora Brasileira.

3 - Pesquisa indica que os jovens brasileiros se interessam mais por compras que os jovens americanos. Para ler sobre a pesquisa, clique aqui.

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